sábado, 24 de abril de 2010

25 de Abril de 1974

Um dos grandes, senão o maior, erros, do regime ditatorial Português, foi não ter entendido, ou recusar-se a entender, que a independência das colónias era imparável. Os regimes colononialistas, após a II Guerra Mundial, mais ainda depois de Dhien Bhien Phu e da crise do Suez, tentaram salvaguardar os privilégios possíveis, mantendo a influência política e económica, mais ou menos encapotada, mas, necessitaram de aceitar a independência dos territórios ultramarinos. O governo Português, "orgulhosamente só", apenas conseguiu chacinar as populações Africanas, e mandar para a morte, os seus próprios filhos, em "defesa" de uma "Pátria" irreal.

Quando comecei a escrever este "post", pensava concluir com o belo e terrível poema de Fernando Pessoa "O menino da sua Mãe", mas, entretanto, um outro me aflorou a memória: "Menina dos Olhos Tristes", que escutei, pela primeira vez, por 1972/73, numa estação de rádio estrangeira, e rememorei toda essa época, reviví esse tempo soturno, triste, de ar pesado que sofucava, que prendia os pulmões, não os deixando respirar, ao mesmo tempo que prendia os sentimentos e acorrentava os corações de um povo inteiro. Algumas vozes, corajosas, mantinham, no entanto, acesa a chama da luta pela Liberdade, que, ainda que silenciosamente, se aproximava..
A voz é de Adriano Correia de Oliveira, uma das mais belas vozes Portuguesas da segunda metade do século XX.

Glória aos esquecidos!



Menina Dos Olhos Tristes
Menina dos olhos tristes
o que tanto a faz chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Vamos senhor pensativo
olhe o cachimbo a apagar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Senhora de olhos cansados
porque a fatiga o tear
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Anda bem triste um amigo
uma carta o fez chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

A lua que é viajante
é que nos pode informar
o soldadinho já volta
está mesmo quase a chegar

Vem numa caixa de pinho
do outro lado do mar
desta vez o soldadinho
nunca mais se faz ao mar

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