quinta-feira, 27 de novembro de 2014

(Quase) diário de um candidato a converso -3



                                                            My heart is in the East

    My heart is in the east, and I in the uttermost west—
    How can I find savour in food? How shall it be sweet to me?
    How shall I render my vows and my bonds, while yet
    Zion lieth beneath the fetter of Edom, and I in Arab chains?
    A light thing would it seem to me to leave all the good things of Spain—
    Seeing how precious in mine eyes to behold the dust of the desolate sanctuary.

 Yehuda HaLevy, XIIth Century

                                                                       Translated by Nina Salaman      







                                                                                     





quarta-feira, 26 de novembro de 2014

(Quase) diário de um candidato a converso -2



Por Rabino Avraham Steinmetz
Publicado na BC News junho, 2014


(...)para os religiosos judaísmo não é uma nacionalidade, não se trata de tradição, também não é uma cultura, nem uma raça. Ser judeu é pertencer a uma família, faz parte do DNA espiritual, e simplesmente não há como produzir isso.

Lembro-me das palavras do Rebe sobre conversão. “Depois que uma pessoa se converte, devemos reconhecer que o que de fato houve não foi uma conversão. Não existe isso de conversão – a palavra conversão supõe uma mudança – e não ocorreu qualquer mudança com esse indivíduo.”

O Rebe continua a explicação da seguinte maneira: em hebraico há palavras e seus antônimos que invariavel- mente originam-se de raízes distintas. Por exemplo, um servo que se tornou livre é eved shenishtachrer, diferentes raízes para eved (servo) e nishtachrer (libertado). Ou como o Rebe disse, “um homem pobre que ficou rico” – “oni shenish’asher”: novamente duas raízes: oni (um homem pobre) e ashir (rico).

Mas quando se trata de conversão, sempre consta ger shenitgaier; as raízes são idênticas, o que significa um convertido que se converte em vez de goy shenitgayer (um gentio que se converte). Portanto, quando uma conversão se dá de acordo com a lei judaica, devemos entender que trata-se de uma alma que sempre foi judia. Nada foi convertido, nada mudou. Por razões conhecidas pelo Todo-Poderoso, essa alma esteve encarcerada na conjuntura de uma mãe não-judia, e esse é o seu teste, a sua missão. Como há uma centelha judaica dentro dela que busca ser judia, após sua conversão reconhecemos que ela sempre foi judia.

Segundo o Código de Leis do Judaísmo, somos exortados a honrar um convertido mais do que um indivíduo que nasceu judeu, pois sua alma passou por uma prova muito mais rigorosa. O Rebe afirmava que um candidato à conversão deveria ser encaminhado a um rabino versado nas leis de conversão, pois saberemos se aquela alma é de fato judia somente quando a conversão é feita de acordo com a lei judaica. Esse é o único mecanismo externo de que nós, mortais, dispomos para entender algo de natureza espiritual, se a alma é ou não judia, pois se a conversão não for “casher”, i.e. feita em conformidade com a lei – halachá, jamais saberemos. Não é justo para com o próprio “convertido”, pois nem mesmo ele saberá quem realmente é. (...)

Texto extraido de "A Crise da Conversão - Quem é o Vilão?" que pode ser lido, na íntegra em:

http://www.pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/2651533/jewish/A-Crise-da-Converso-Quem-o-Vilo.htm









sábado, 8 de novembro de 2014

Batel








                                                   
                                                Não, eu não digo
                                                Ao mar cruel
                                                Onde vou bailar
                                                Para o mar não
                                                Me roubar
                                                O teu olhar.
                                                Sorrir contigo
                                                Contigo bailar
                                                Nas ondas do mar
                                                Cruzar o olhar
                                                Na espuma das ondas
                                                Num frágil batel
                                                Embarcar
                                                Dançar
                                                E navegar
                                                Sem esperar
                                                Pelo fim do mar.


         



quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Regresso



Subi ao convés.O frio cortante do vento Antártico forçou-me a apertar mais a parka e levantar o capuz. Encostei-me à amurada, não sem antes ter acendido o cachimbo, protegido do vento. O mar, cinzento, pouco encapelava. O navio avançava, suavemente, rasgando as águas à sua frente, deixando um rasto de espuma e vagas que se espalhavam em ondas cada vez mais pequenas e distantes.




 Ao longe, onde o céu se confundia como mar, surgiam os primeiros alvores da madrugada, em tons de laranja carmesim e dourado.
Uma gaivota, pousada no mastro, levantou a cabeça,lançou o seu lamento soluçante, quebrando o silêncio, e abrindo as asas levantou vôo, para mais um dia de luta pela sobrevivência, entre céu e mar, voando alto para se aquecer aos raios do sol nascente ou velozmente mergulhando na tentativa de pegar um peixe imprudente.


Os seus gritos ecoavam, pelo mar distante, levados pelo vento, num desafio à vida, num grito de conquista, num desalento de derrota, num crocito de resistência à adversidade.
Segui o seu vôo enquanto fumava o cachimbo, olhei para as muitas cores do mar e para o nascer do dia, escutei a gaivota, companheira de viagem e pensei: "é tempo de regressar a casa".


segunda-feira, 3 de novembro de 2014

(Quase) diário de um candidato a converso -1



   "Frederico, o Grande:- Pode citar-me uma só prova da existência de Deus, que não tenha sido desmentida?
   Jean Baptiste de Boyer, Marquês de Argens:- Sim, Majestade: Os Judeus!"

         in  História do Povo Judeu, Werner Keller


                                






    "Num capítulo inteiramente dedicado à Estrela d'Alva, (Barros Basto) no livro Terras de Morte e de Fé, escreve:«Foi porque ela anunciou a Abraham os primeiros alvores da nossa fé, foi ela que inspirou Moisés nas suas cogitações, foi ela que encorajou Zenon na sua luta contra a fúria das vagas, foi ela que anmou Cleanto nos seus rudes trabalhos nocturnos, foi ela que inebriou Marco Aurélio nas suas meditações, e foi ela que nos sorriu sobre Emor.
     A mim próprio o Grande Espírito ma indicou. Era uma noite doce, linda como por vezes nos apresenta o belo céu da Península. Estava sentado junto a uma janela, que, de par em par, se abria sobre o jardim, lia um livro que velhos pensadores, de remotas eras, haviam escrito. Levemente fatigado, fechei o livro, pousei-o sobre os joelhos e contemplei a míriade tremeluzente, onde se destacava a bela estrela.
     Não sei quanto tempo a estive contemplando.
     Então a razão perguntou a mim mesmo porque fora ela a inspiradora dos filhos da Verdade?
     E automáticamente, como que obedecendo a uma força oculta, eu abri o livro e do texto se destacou o seguinte período:
     - Eu te estabeleci para ser a luz das nações, para levar a minha salvação até às extremidades da terra»
     (...)
     Outra força oculta, o estigma ancestral, impeliu-o definitivamente para o judaismo"


          in  Ben Rosh , Elvira de Azevedo Mea & Inácio Steinhardt.


                        
 Uma pequena pedra, por efeito da erosão, ou do vento, move-se um pouco. Apenas alguns centímetros...e acontece uma avalanche.
    Assim começa esta história, transformada em (quase) diário.
    Desde a infância que tenho conhecimento das minhas raízes judaicas e essa noção tem influenciado muitas decisões, escolhas e opções, tomadas ao longo da vida.
    Tenho dedicado algum tempo a estudar e analisar as várias correntes filosóficas, de Espinoza aos teosofistas, li Eliade, Guénon, Blavatsky, Stern.
    Percorri os Andes, com Kant debaixo do braço (na mochila, para ser exacto), enquanto olhava os Condores, companheiros de viagem.
    Naveguei os sete mares, com Platão e Aristóteles.
    Calcorreei os desertos de África, com Maimonides...
    Percorri os trilhos da Antropologia, da Sociologia, da História.
    Estudei a heurística e a hermenêutica, mas sempre me mantive afastado da "religião activa", sempre a encarei nas suas vertentes filosóficas, morais, éticas, sempre na sua vertente "intelectual", nunca na sua vertente "emocional".
    Mas os anos passam, a forma de pensar (mais importante: a forma de sentir) muda e o que era pequena luzinha, ao longe no céu, começa a aumentar, cada vez mais, até se transformar numa "Estrela d'Alva", como lhe chamou Ben-Rosh.
    E o apelo, tantas vezes fechado, o chamamento, tantas vezes abafado, torna-se mais forte, sempre mais forte. até se transformar numa torrente que já nenhum dique consegue parar.
    O primeiro passo foi dado!
    Os seguintes virão, a seu tempo.