quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Hospital de Santo António




O silencio apenas é cortado pelos "bips" das máquinas, a escuridão iluminada pelos traços verdes dos monitores que controlam os sinais vitais. Nos cuidados intensivos a noite, para quem não dorme, é lenta, pesada, sufocante.
Nas trevas, diante de mim, vejo o monstro - todo ele ângulos, retorcidos,inomináveis. Confunde-se com o negrume de onde vem.


Rodopia, lentamente, observando,analisando, procurando o alvo mais débil...num ápice lança o assalto: as asas serrilhadas abrem-se e mergulha, como um relâmpago, mais escuro do que a escuridão, como se a sua escuridão não possa ser iluminada por nenhuma luz
A calma monótona rasga-se, súbitamente. Os sinais vitais de um qualquer doente alteram-se. Surgidos não se sabe de onde, os enfermeiros acorrem, pressurosos, no auxílio. Uma luz dilacera a noite, e vozes abafadas informam os colegas do que se passa, do que fazer:"segura desse lado", "aos três", "um cateter", "o oxigenio já está...".
Passam uns minutos - dois, cinco talvez.
O doenta estabiliza. Assim como apareceram,desaparecem, não sem passar uma rápida vista de olhos por todos os monitores.
Deitado na escuridão insone, sinto mais conforto, sinto-me mais seguro.
O monstro continua ali, à minha frente, mas sei que os anjos da noite velam permanentemente e que não deixarão o monstro agarrar ninguém sem dar luta até ao fim...




As memórias de um internamento recente no Hospital Geral de Santo António, com passagem pela UCIC (Unidade de Cuidados Intensivos Coronários), ainda são demasiado intensas para ser descritas, mas aqui fica o público agradecimento a todo o pessoal daquele centro hospitalar. Todos, sem excepção, foram importantes para me salvar a vida e me dar suporte nos dias que se seguiram.
Todas essas histórias aqui encontrarão espaço, à medida que for capaz de as contar...
Não posso, no entanto, deixar de salientar, especialmente, os elementos do INEM que me estabilizaram in loco e me transportaram, prevenindo o hospital para que tudo estivesse "a postos" e o trabalho inexcedível dos enfermeiros, esses verdadeiros "anjos brancos" que surgem sempre, ao nosso lado,quando mais pensamos que estamos sós, na luta pela vida...