quarta-feira, 15 de abril de 2009

O Muezzin

A água agitava-se, suavemente, contra as pedras do cais. A mistura de aromas das especiarias, das cargas mal acondicionadas, dos esgotos a céu aberto, perto dali, da maresia sentida na brisa, era forte, inebriante. Sentia o cérebro semi-entorpecido pela noite passada em claro,pelo som hipnótico da música e entontecedor movimento das danças, pela bebida ingerida... estava parado, a pouca distancia do cais, escutando o arrulhar das pombas, que acordavam para um novo dia, enquanto os primeiros raios de sol apareciam no horizonte. Uma mulher passou, movimentos apressados, provavelmente uma trabalhora nocturna, de regresso ao seu quarto. Nesse exacto momento uma voz se levantou no silencio, rasgando o amanhecer com um canto límpido, chamando os crentes à oração matinal, acompanhando a alvorada com os seus versos. Essa voz derramando-se pela ruas da cidade, quebrando o arrulhar das pombas, agitando corações, manifestando a sua fé, clamando a sua crença, espalhando-se pela agitação matinal, carregando séculos de história consigo... uma memória viva, um vislumbre do passado, escutado ao alvorecer, em Alexandria...

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