quarta-feira, 5 de novembro de 2014
Regresso
Subi ao convés.O frio cortante do vento Antártico forçou-me a apertar mais a parka e levantar o capuz. Encostei-me à amurada, não sem antes ter acendido o cachimbo, protegido do vento. O mar, cinzento, pouco encapelava. O navio avançava, suavemente, rasgando as águas à sua frente, deixando um rasto de espuma e vagas que se espalhavam em ondas cada vez mais pequenas e distantes.
Ao longe, onde o céu se confundia como mar, surgiam os primeiros alvores da madrugada, em tons de laranja carmesim e dourado.
Uma gaivota, pousada no mastro, levantou a cabeça,lançou o seu lamento soluçante, quebrando o silêncio, e abrindo as asas levantou vôo, para mais um dia de luta pela sobrevivência, entre céu e mar, voando alto para se aquecer aos raios do sol nascente ou velozmente mergulhando na tentativa de pegar um peixe imprudente.
Os seus gritos ecoavam, pelo mar distante, levados pelo vento, num desafio à vida, num grito de conquista, num desalento de derrota, num crocito de resistência à adversidade.
Segui o seu vôo enquanto fumava o cachimbo, olhei para as muitas cores do mar e para o nascer do dia, escutei a gaivota, companheira de viagem e pensei: "é tempo de regressar a casa".
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