sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
(Quase) Diário de um candidato a converso -4
Sente-se o calor do Sol, mas corre um vento fresco que, de vez em quando, provoca um ligeiro arrepio.
A baía de Cascais espraia-se perante mim. À minha esquerda estende-se Lisboa e as suas colinas. À minha direita a estrada para a Boca do Inferno.
Bancos de madeira, um quiosque, uma roda gigante. Os ramos das palmeiras agitam-se um pouco. Recordo Otis Redding, cantando "The Dock of the Bay" enquanto aguardo que as horas passem, para assistir ao acendimento da sétima vela do Hanukkah.
Enquanto espero, cruzam.se dezenas de pensamentos, dezenas de emoções. Recordo o encontro de ontem...pela primeira vez, em muitos, muitos, anos, senti-me "em casa", acolhido, quente, confortável. A conversa fluíu sem problemas, sem constragimentos, entre risos e lágrimas, hesitações e certezas, pensamentos e emoções, num amálgama indiscritível.
Saí do encontro mais forte, com mais certeza. Sinto que esta minha vontade é, também, a vontade d'Ele.
O caminho vai ser longo, difícil, penoso, mas embora os pés fiquem cansados, doloridos, cheios de feridas, cada passo em frente será um passo de contentamento, maravilha e alegria.
Baruch Adonai Eloheinu!
sexta-feira, 19 de dezembro de 2014
Poemas de Amor e Revolta II
- TU RISA
- Quítame el pan si quieres,
- quítame el aire, pero
- no me quites tu risa.
- No me quites la rosa,
- la lanza que desgranas,
- el agua que de pronto
- estalla en tu alegría,
- la repentina ola
- de planta que te nace.
- Mi lucha es dura y vuelvo
- con los ojos cansados
- a veces de haber visto
- la tierra que no cambia,
- pero al entrar tu risa
- sube al cielo buscándome
- y abre para mí
- todas las puertas de la vida.
- Amor mío, en la hora
- más oscura desgrana
- tu risa, y si de pronto
- ves que mi sangre mancha
- las piedras de la calle,
- ríe, porque tu risa
- será para mis manos
- como una espada fresca.
- Junto al mar en otoño,
- tu risa debe alzar
- su cascada de espuma,
- y en primavera, amor,
- quiero tu risa como
- la flor que yo esperaba,
- la flor azul, la rosa
- de mi patria sonora.
- Ríete de la noche,
- del día, de la luna,
- ríete de las calles
- torcidas de la isla,
- ríete de este torpe
- muchacho que te quiere,
- pero cuando yo abro
- los ojos y los cierro,
- cuando mis pasos van,
- cuando vuelven mis pasos,
- niégame el pan, el aire,
- la luz, la primavera,
- pero tu risa nunca
- porque me moriría.
- Pablo Neruda
terça-feira, 16 de dezembro de 2014
Poemas de Amor e Revolta I
Soneto do amor e da morte
quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.
quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não
tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.
Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"
quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.
quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não
tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.
Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"
Subscrever:
Mensagens (Atom)