terça-feira, 19 de outubro de 2010

"Austrálias"


Quem és tu velha carcaça

Que me apareces ao espelho?

Segues-me por pirraça,

Ou estou mesmo a ficar velho?



Lembro-me de mim,

Como um jovem a correr,

Pelas Austrálias (1) sem fim,

Onde tanto consegui aprender.



Por vezes com sal num saco,

Para um pepino temperar,

Depois de o lavar no regato,

Transforma-se em belo manjar.



Pelos campos que passava,

Só tinha de cuidar,

Que nada estragava,

Mas uma fruta podia tirar.



Depois vinha a perdição,

Ó paixão desvairada,

O futebol, minha maldição,

Que deixava minha mãe desesperada.



Por isso não reconheço

Esse que vejo ao espelho,

Será alguém com quem pareço?

Ou sou eu que estou a ficar velho?



(1) : Austrálias – Conjunto arborícola do tipo acácia da Austrália ou acácia negra que se localizava por trás de nossa casa em Gondomar (Nota do Autor)

Um jovem corre pelo bosque, com os olhos abertos pelas maravilhas que observa, atentamente, ou até, apenas, pelas imagens fugazes que correm perante si, entrevistas mas sempre misteriosas... Felizmente que jovens, como Alexandre Cardoso, crescem e se transformam em adultos que não perdem a capacidade de se maravilhar, seja perante a Hagia Sophia, na distante Istambul, seja perante as acácias em Gondomar, que "olham para trás" e conseguem - ainda - sentir a magia e vislumbrar um Fauno, correndo por entre as árvores...
De novo, no "Memórias" a presença de Alexandre Cardoso, poeta de corpo inteiro e que tenho a honra de considerar como irmão do coração.
Feliz Aniversário Alex. Que a felicidade te persiga por toda a tua vida!!!

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