" O Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava."
A beleza pungente das palavras de José Régio acende as chamas amodorradas no coração de um velho marinheiro,trespassa o coração como lâminas de gelo, que queimam com o seu frio,relembra dias cinzentos, tristes, nostálgicos. Mas essa é a singela grandeza do marinheiro:velar na amurada, triste, mas cantando. Cantando o Sol que nasce, a luz nas águas inquietas, que mudam de côr em cambiantes inúmeros, nas ondas alterosas e na calmaria, no clarão verde, ao pôr-do-Sol, no Pacífico Sul,nas maravilhas imensas que passam diante da proa, no sal nos lábios que faz sede, nos olhos cansados...cantando a liberdade sem limites, sem amarras, a não ser a dos cais onde se aporta.
Mas cantando, igualmente, a canção do regresso, do retorno ao aconchego, à Mátria que nos acolhe no seu colo, e para a qual voltamos, como meninos perdidos, ansiosos do seu carinho e da sua ternura.
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