domingo, 12 de julho de 2009

Pablo Neruda

"... ... Do que deixei escrito nestas páginas se desprenderão sempre - como nos arvoredos de outono e como no tempo das vinhas – as folhas amarelas que vão morrer e as uvas que reviverão no vinho sagrado.Minha vida é uma vida feita de todas as vidas: as vidas do poeta." Pablo Neruda in "Confesso que vivi"

A 12 de Julho nasceu um dos grandes poetas do Séc.XX : Pablo Neruda,Cidadão Chileno e
Cidadão do Mundo.Que esteve longe,e regressou,que nunca abjurou da sua Pátria,nem das suas convicções.Que,com a sua escrita,dura,selvagem,sonhadora e cheia de ternura,descreveu a America Latina,em páginas cruas,melancólicas,lutadoras,sempre belas.

Pablo Neruda,que,embora já doente,"morreu de tristeza"em 23 de Setembro de 1973,poucos dias depois do golpe militar,mas,sempre,embora desiludido,se recusou a perder a esperança:
" ... Tudo luta por mudanças, menos os velhos sistemas... A vida dos velhos sistemas nasceu de imensas teias de aranha medievais... Teias de aranha mais duras do que os ferros das máquinas... No entanto, há gente que acredita numa mudança, que tem posto em prática a mudança, que tem feito triunfar a mudança, que tem feito florescer a mudança... Caramba!... A primavera é inexorável!"P.Neruda,ob.citada


Do "Canto Geral"

Hino e regresso (1939)


Pátria, minha pátria, volto a ti o sangue.
Mas te peço, como à mãe o menino
cheio de pranto.
Acolhe
esta guitarra cega
e este rosto perdido.
Saí para encontrar-te filhos pela terra,
saí para cuidar caídos com o teu nome de neve,
saí pata fazer uma casa com a tua madeira pura,
saí para levar tua estrela aos heróis feridos.

Agora quero dormir em tua substância.
Dá-me tua clara noite de penetrantes cordas,
tua noite de navio, tua estatura estrelada.

Pátria minha: quero mudar de sombra.
Pátria minha: quero trocar de rosa.
Quero pôr meu braço em tua cintura exígua
e sentar-me em tuas pedras pelo mar calcinadas,
a deter o trigo e espiá-lo por dentro.

Vou eleger a flora delgada do nitrato,
vou fiar o estame glacial do sino,
e espiando tua ilustre e solitária espuma
um ramo litoral tecerei para tua beleza.

Pátria, minha pátria
toda rodeada de água combatente
e neve combatida,
em ti se junta a águia ao enxofre
e em tua antártica mão de arminho e de safira
uma gota de pura luz humana
brilha acendendo o inimigo céu.

Guarda tua luz, ó pátria!, mantém
tua dura espiga de esperança em meio
ao cego ar temível.

Em tua remota terra caiu toda esta luz difícil,
este destino dos homens
que te faz defender uma flor misteriosa
só, na imensidade da América adormecida.

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