sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Dezembro 2011


O Natal é tempo de sonhos, de alegrias, da família.
É tempo de reunir à mesa e conversar.  Tempo de distribuir as prendas, de brincar e rir.
Mas, quando todos já subiram para descansar, o Natal é - também - tempo de nos sentarmos à lareira e enquanto vemos as brasas a esmorecer, lembrar aqueles que já não estão connosco e de quem sentimos a falta. Recordar a sua ternura, o seu amor, a sua amizade. Tempo, igualmente, de (quando mais ninguém nos vê), deixar rolar as lágrimas que - tantas vezes - escondemos daqueles que nos rodeiam.
O Natal é o agridoce tempo de reencontro, com os outros e com nós mesmos.

 


Ring out, wild bells, to the wild sky,
The flying cloud, the frosty light;
The year is dying in the night;
Ring out, wild bells, and let him die.

Ring out the old, ring in the new,
Ring, happy bells, across the snow:
The year is going, let him go;
Ring out the false, ring in the true.

Ring out the grief that saps the mind,
For those that here we see no more,
Ring out the feud of rich and poor,
Ring in redress to all mankind.

Ring out a slowly dying cause,
And ancient forms of party strife;
Ring in the nobler modes of life,
With sweeter manners, purer laws.

Ring out the want, the care the sin,
The faithless coldness of the times;
Ring out, ring out my mournful rhymes,
But ring the fuller minstrel in.

Ring out false pride in place and blood,
The civic slander and the spite;
Ring in the love of truth and right,
Ring in the common love of good.

Ring out old shapes of foul disease,
Ring out the narrowing lust of gold;
Ring out the thousand wars of old,
Ring in the thousand years of peace.

Ring in the valiant man and free,
The larger heart, the kindlier hand;
Ring out the darkness of the land,
Ring in the Christ that is to be. 

 
  Alfred, Lord Tennyson, Ring out, wild bells 


terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Kislev 5772




                Feliz Hannukkah!







"Baruch Atah Adonai, Barucha At Shekhinah,
Eloheinu Melech Ha-Olam;
Baruch Atah YHVH/Elohim,
Eloheinu Melech Ha-Olam -
Shehechiyanu v'kimanu v'higiyanu laz'man hazeh.
Amen"





"Blessed are You, Lord, and Blessed is Your Shekhinah, Ruler of Time and Space;
Praise to You, Elohim,
Sovereign of the Universe -
Who has given us life, and sustained us,
and enabled us to reach this moment.
Amen"              


                          


sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Dezembro 2011





A noite fora longa, escura, fria.
Ai noites de Natal que dáveis luz,
Que sombra dessa luz nos alumia?
Vim a mim dum mau sono, e disse: «Meu Jesus…»
Sem bem saber, sequer, porque o dizia.

E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»

Na cama em que jazia,
De joelhos me pus
E as mãos erguia.
Comigo repetia: «Meu Jesus…»
Que então me recordei do santo dia.

E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»

Ai dias de Natal a transbordar de luz,
Onde a vossa alegria?
Todo o dia eu gemia: «Meu Jesus…»
E a tarde descaiu, lenta e sombria.

E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»

De novo a noite, longa, escura, fria,
Sobre a terra caiu, como um capuz
Que a engolia.
Deitando-me de novo, eu disse: «Meu Jesus…»

E assim, mais uma vez, Jesus nascia.

José Régio, Litania do Natal

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Dezembro 2011


Natal

Hoje é dia de Natal.

O jornal fala dos pobres

Em letras grandes e pretas,

Traz versos e historietas

E desenhos bonitinhos,

E traz retratos também

Dois bodos, bodos e bodos,

Em casa de gente bem.

Hoje é dia de Natal.

Mas quando será de todos?

    Sidónio Muralha, Poesias

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Dezembro 2011


Natal de quê? De quem?

Daqueles que o não têm?

Dos que não são cristãos?

Ou de quem traz às costas

As cinzas de milhões?

Natal de paz agora

Nesta terra de sangue?

Natal de liberdade

Num mundo de oprimidos?

Natal de uma justiça

Roubada sempre a todos?

Natal de ser-se igual

Em ser-se concebido,

Em de um ventre nascer-se,

Em por de amor sofrer-se,

Em de morte morrer-se,

E de ser-se esquecido?

Natal de caridade,

Quando a fome ainda mata?

Natal de qual esperança

Num mundo todo bombas?

Natal de honesta fé,

Com gente que é traição,

Vil ódio, mesquinhez,

E até Natal de amor?

Natal de quê? De quem?

Daqueles que o não têm?

Ou dos que olhando ao longe

Sonham de humana vida

Um mundo que não há?

Ou dos que se torturam

E torturados são

Na crença de que os homens

Devem estender-se a mão?


       Jorge de Sena, Natal de 1971

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Dezembro 2011





Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra— louvado seja o Senhor!— o que nunca tinha pensado comprar.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.

Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.

Ah!!!!!!!!!!

Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.

Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.


Dia de Natal
António Gedeão

It's Beginning to Look A Lot like Christmas
Johnny Mathis

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Dezembro 2011

 


And did those feet in ancient time.
Walk upon England's mountains green:
And was the holy Lamb of God,
On England's pleasant pastures seen!

And did the Countenance Divine,
Shine forth upon our clouded hills?
And was Jerusalem builded here,
Among these dark Satanic Mills?

Bring me my Bow of burning gold;
Bring me my Arrows of desire:
Bring me my Spear: O clouds unfold!
Bring me my Chariot of fire!

I will not cease from Mental Fight,
Nor shall my Sword sleep in my hand:
Till we have built Jerusalem,
In England's green & pleasant Land

  "And did those feet in ancient time"
  William Blake

domingo, 4 de dezembro de 2011

Dezembro 2011



Se considero o triste abatimento
Em que me faz jazer minha desgraça,
A desesperação me despedaça,
No mesmo instante, o frágil sofrimento.

Mas súbito me diz o pensamento,
Para aplacar-me a dor que me traspassa,
Que Este que trouxe ao mundo a Lei da Graça,
Teve num vil presepe o nascimento.

Vejo na palha o Redentor chorando,
Ao lado a Mãe, prostrados os pastores,
A milagrosa estrela os Reis guiando.

Vejo-O morrer depois, ó pecadores,
Por nós, e fecho os olhos, adorando
Os castigos do Céu como favores.

Poema de Natal
Manuel Maria Barbosa du Bocage



"Ave Maria"



Leontyne Price

sábado, 3 de dezembro de 2011

Dezembro 2011


 
"O sol trespassou os vitrais, em tonalidades douradas e carmesim, criando turbilhões de cor sobre as suas mãos… aquelas mãos de dedos longos e finos, manchados pelas tintas, ligeiramente torcidos pelo uso constante da pena.
O copista desviou a atenção da iluminura que desenhava, cuidadosamente. O olhar repousou, quase pela primeira vez, na mesa de trabalho, transformada pela luz dançante num pequeno mundo, multicolorido pelas gotas de tinta caídas, absorvidas pela madeira, misturadas com as lágrimas de emoção, que tantas vezes lhe corriam pelas faces, ao copiar antigos textos, vivendo aquelas histórias, sentindo as personagens que transcrevia…
 Levantou-se da mesa, com alguma dificuldade, esticando as costas doloridas pelas longas horas sentado e aproximou-se da janela, abrindo-a de par em par. O vento fresco da manhã entrou na sala, com força, trazendo o cheiro dos campos de alfazema, agitando-lhe os cabelos, arrepiando-o com a sua frescura, agitando o seu corpo e o seu espírito.
       A encosta descia, íngreme, algumas centenas de metros, até se abrir num longo vale, dominado pelo lilás, roxo e púrpura da alfazema florida, entremeada por farrapos de outras cores, num arco-íris deslumbrante.
      O vento, as cores, os aromas, eram um grito de vida, rompendo o silêncio monacal. Ali permaneceu, estático, os sentidos apurados, absorvendo as imagens, os sons, notando como as montanhas, ao longe, do outro lado do vale, subiam, altaneiras, contraforte sobre contraforte, em cores de azul-escuro, verde musgo e negro, com o sol matinal espreitando por cima, fazendo cerrar os olhos com a sua luz.
     Ao fim de uma eternidade, o copista, ajoelhando-se, levantou os braços num gesto de invocação, clamando:'Senhor, como é grande a Tua glória!'"

"Dominus Regnavit":

 

  Mozarabic Chant - Mass Praelegendum

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Dezembro 2011



Ring out, wild bells, to the wild sky,
The flying cloud, the frosty light;
The year is dying in the night;
Ring out, wild bells, and let him die.

Ring out the old, ring in the new,
Ring, happy bells, across the snow:
The year is going, let him go;
Ring out the false, ring in the true.

Ring out the grief that saps the mind,
For those that here we see no more,
Ring out the feud of rich and poor,
Ring in redress to all mankind.

Ring out a slowly dying cause,
And ancient forms of party strife;
Ring in the nobler modes of life,
With sweeter manners, purer laws.

Ring out the want, the care the sin,
The faithless coldness of the times;
Ring out, ring out my mournful rhymes,
But ring the fuller minstrel in.

Ring out false pride in place and blood,
The civic slander and the spite;
Ring in the love of truth and right,
Ring in the common love of good.

Ring out old shapes of foul disease,
Ring out the narrowing lust of gold;
Ring out the thousand wars of old,
Ring in the thousand years of peace.

Ring in the valiant man and free,
The larger heart, the kindlier hand;
Ring out the darkness of the land,
Ring in the Christ that is to be. 

             Ring out, wild bells - Christmas Poem
  Alfred, Lord Tennyson

The Vienna Boys Choir




                         "Little Drummer Boy"

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Dezembro 2011



Natal, e não Dezembro

Entremos, apressados, friorentos,

Numa gruta, no bojo de um navio,

Num presépio, num prédio, num presídio,

No prédio que amanhã for demolido...

Entremos, inseguros, mas entremos.

Entremos, e depressa, em qualquer sítio,

Porque esta noite chama-se Dezembro,

Porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,

Duzentos mil, doze milhões de nada.

Procuremos o rastro de uma casa,

A cave, a gruta, o sulco de uma nave...

Entremos, despojados, mas entremos.

De mãos dadas talvez o fogo nasça,

Talvez seja Natal e não Dezembro,

Talvez universal a consoada.

                                            David Mourão-Ferreira, Cancioneiro do Natal


         


"Oh Come, all ye faithful"




                       King's College, Cambridge